sábado, 24 de janeiro de 2009

Na Origem do Tarot





Nada é por acaso.

Estou morando em Milano por um tempo, até acabar meu mestrado, e esta cidade tem reservado surpresas interessantes quando tratamos de Tarot.

A melhor de todas foi estar com Osvaldo Menegazzi esta manhã, na sua loja Il Meneghello Tarocchi.
http://www.arnellart.com/osvaldo/art.htm
http://www.tarotpedia.com/wiki/Osvaldo_Menegazzi

Emocionante, porque há exato um ano eu o conheci no Brasil, na estante da Cultura, através dos Taros dos Gatos.

Postarei mais sobre as descobertas que tratam deste tema logo mais, quando tiver mais tempo, até porque logo mais também terei o prazer de encontrar com Jodorowsky, o Psicomago do Tarot.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

XV – O Diabo


Abordagem Visual

Vemos um bode com longos cornos espiralados que ri, posicionado no centro de um pênis, onde vários seres estão nos testículos, como sêmen. Algumas estruturas que parecem teias de aranha acinzentadas estão ao redor, sobre um fundo rosa. Dentre todos os tarots que estudo, esta representação do Diabo é a mais leve e lúdica.

Mitologia e Tipologia


Porque o Bode sempre é o Diabo? Talvez venha da tradição judaico cristã, ainda á época de Levítico, onde Aarão oferecia bodes para a expiação dos pecados a seu Jeová. E então lembrei da expressão bode expiatório, que vem desta época também mas que é atualizada sempre que colocamos a culpa de nossos atos em outrem. O deus dos cristãos faz isso, por exemplo, quando lhe inquirem quem chacinou centenas de milhares de mulheres e crianças em Ruanda ou os judeus na segunda guerra. A culpa sempre é do Mal, do Outro, Aquele Inominável. Um paralelo atual é quando perguntam a Bush qual a causa da crise americana e quase conseguimos vê-lo apontando o dedo ao que ele já chamou de bode barbudo muçulmano, assim obviamente se eximindo de qualquer responsabilidade governamental. Quem é o Anticristo mesmo?

Nesta carta temos o bode em sua forma animal, sendo que nos outros tarots, como em Greene, podemos ver o deus grego Pan, que era ligado aos mistérios de Dionísio. Deus também dos cultos pastorais, meio animal meio homem, sempre barbudo e com seus cascos brilhantes, tinha uma fome sexual insaciável, sendo inclusive o inventor da masturbação. Também tem relação com o deus egípcio Set, assumindo então a forma de uma serpente ou crocodilo, e ainda com Tiamat, deusa babilônica do caos, que asumia a forma de um pássaro armado de chifres e garras.

Aqui vale a pena examinarmos Lúcifer, o Anjo Caído, Anjo Maldito ou o Lado Negro da Força como arquétipo principal desta lâmina. Eu adoro a passagem bíblica do pecado original, onde Eva come a maçã oferecida pela serpente malévola sem que seu consorte dorminhoco, Adão, saiba. Após, Deus o inquire, e o homem aponta o dedo a ela, dizendo: - Mas, Senhor, ela me obrigou!!! (mulher, bode expiatório da expulsão do paraíso!).

Este Diabo que dá o fruto não é mau, ele nos dá o conhecimento, ou seja, o livre-arbítrio, a passagem do mundo uterino paradisíaco para o Mundo Real, onde temos que Ser. E convenhamos, é Deus quem primeiro aponta para o fruto proibido, ele sabe que que o homem vai arriscar, mas ele quer este ato, pois só assim o homem, sua criação, pode se tornar o iniciador de sua própria vida, a partir de sua própria escolha. É o nosso primeiro ato de desobediência libertadora... Michel Onfré comenta que ‘ Satã, o oponente, o acusador, sopra o espírito de liberdade sobre as águas sujas do mundo das origens em que triunfa unicamente a obediência – reino da servidão máxima. Devolve aos homens seu poder sobre si mesmos e sobre o mundo, livra-os de toda a tutela (divina)’. Ou como disse Sartre, estamos ‘ condenados a ser livres.’

Começamos a entender também o conceito Junguiano de sombra, pois, se somos livres, na proporção que a vida do homem se torna mais consciente e civilizada, sua natureza animal e instintual se fortalece, em resumo: quanto maior a luz, maior a sombra. Vemos em Isaías, que Jeová tinha estes opostos integrados, quando ele fala: ‘ Eu sou o Senhor e não há mais ninguém. Formo a luz e crio a escuridão, faço a Paz e crio o Mal, Eu, Senhor, faço todas estas coisas’ . Temos em nós o mal e o bem, e a lâmina quinze, não por acaso entre a Temperança e a Torre diz que, para não deixar ruir a nossa estrutura, devemos exercitar a nossa libido e instintos de forma saudável e consciente, equilibrada, temperada, pois é sabido que quando os aspectos negativos de nós mesmos não forem reconhecidos como nossos, realizados, vão agir contra nós no exterior.




Pra finalizar, gostaria de complementar com a abordagem de Valéria Fernandes sobre esta carta: ‘Desde os tempos longínquos criamos seres para adorarmos e seres para repelirmos, o que se faz necessário em virtude de termos esses dois lados dentro de nós, muito embora seja difícil admitir quando somos levados por nosso “eu antagônico” perante toda uma sociedade. A carta do Diabo expressa nossos excessos, nossas ambições desmedidas, nossa falta de moral, nossos desejos reprimidos, nossos medos e nossos segredos inescrupulosos, ou seja, todo lado obscuro pertencente ao ser humano.’ E finaliza: ‘E a não aceitação de si mesmo, a vergonha de ser o que é ou de estar fazendo algo que não se pode afirmar ser consenso social, também está implícito nessa carta.’


Cabala: Ayin – Olho. O lado mais material das coisas.

Astrologia: Capricórnio, regido por Saturno.


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